“Criamos a Ecofarra para trabalhar ritimo, principalmente, a percussão. A ideia era criar uma fanfarra como uma atividade rítmica de reforço para preparar o aluno para tocar em conjunto. Por isso pesquisamos materiais para substituir os seis instrumentos mais usados em uma fanfarra escolar: o bumbo, os dois surdos (grande e pequeno), a caixa, o repique e o prato. Agora já sabemos que a Ecofarra é um meio socializante principalmente por causa do custo que é quase zero,” registra o professor de educação física Elvis Nei Estevan, coordenador do projeto.
Dentro do método de ensino usado pelo Musicart Cidadania, desenvolvido pela Secretaria de Educação, Cultura, Esportes e Turismo de Garuva em parceria com o Ministério Público, assim como geralmente acontece nas aulas de fanfarras escolares, os alunos aprendem música a partir dos sons obtidos com o impacto das mãos em algumas partes do próprio corpo.
Este é o primeiro passo. Após acostumar o ouvido às diferenças entre os sons, o aprendiz desenvolve também a habilidade motora e o rítmo, características que o levarão, mais tarde, a tocar instrumentos musicais.
E como crianças e adolescentes não podem se inscrever no Musicart sozinhos, pois é regra ter consigo matriculado outro membro da família, a interação e a superação das dificuldades de relacionamento com a família e o meio ambiente, são parte integrante do projeto.
Esta integração entre os membros de uma mesma família que passam a ter objetivos comuns e a conviver num ambiente harmonioso, é o aspecto que o reforça como projeto social e socializante.
“A preferência é por ter mais membros de uma mesma família no projeto, porque o bom e mais gratificante, é transformar a pessoa. Por exemplo, se conseguimos pegar dois irmãos que não se dão e colocamos a tocar num grupo, onde eles devem tocar no mesmo rítmo, com a mesma dinâmica, força, intensidade e em harmonia com o outro, isso cria um objetivo comum”.
“No grupo, o músico não pode ser egocêntrico e nem submisso, o meu som não tem que ser nem mais bonito, nem mais alto e nem mais vibrante do que o do outro. Pelo contrário, tem que estar em harmonia e isso cria um objetivo comum melhorando o relacionamento entre os dois”, assegura.

Matriculas abertas
O Musicart oferece aulas de instrumentos de cordas como violão, guitarra, contrabaixo e cavaquinho; de percussão, teclado, sopro, harmonia e de canto, e, a partir desse ano, incorpora aulas de expressão corporal.
Uma vez matriculado, o aluno aprende a tocar praticamente todos os instrumentos, não há aula individual e ao longo do ano, a aprendizagem vai acontecendo e a audição de final de ano, construída.
As matrículas são abertas no início de cada ano e ao longo do ano os interessados podem ingressar, pois sempre há turmas iniciantes em cada instrumentos.
A cada fase que ultrapassa, o aluno recebe uma certificação e a participação na Ecofarra é voluntária. “Mas todos querem”, garante o professor.
Ecofarra seria reforço
“Ao percebermos a dificuldade de alguns alunos em aprender rítmos seguimos algumas ideais já conhecidas. Inicialmente trabalhamos com canecos e depois com alguns materiais reciclados. Mas como não conseguimos o resultado esperado, fomos em ferrarias e outras empresas para testar o som em bombonas, latas e outros objetos e materiais.
Passamos cerca de 30 dias pesquisando, trabalhando, fazendo testes, estudando e escrevendo as partituras de cada instrumento, que no caso da Ecofarra são um pouco diferentes”, explicou Elvis.
Como a metodologia do Musicart prevê aulas em conjunto, nunca individual, os professores optaram por encontrar objetos para substituir os instrumentos de uma fanfarra escolar, o conjunto musical mais comum e de fácil instrumentalização.
O bumbo, os dois surdos, a caixa, o repique e o prato ganharam substitutos confeccionados com material reciclado. Somente no conjunto é possível ensinar a harmonia e afinação necessária a um grupo de músicos durante um espetáculo.
“Criamos a Ecofarra como uma atividade ritmica de reforço e usamos a mesma metodologia dos demais instrumentos, no momento em que preparamos o aluno para tocar em conjunto.
Aqui todos aprendem a ler partitura, então fizemos as partituras e os alunos aprendem primeiro a tocar no instrumento normal, para só depois ir para o reciclado. Nas apresentações, geralmente tocamos com os instrumentos normais e depois a Ecofarra”, explica Elvis.
Instrumentos exigiram pesquisa e muita criatividade
Rafael Rodmann, formado pelo Conservatório de Música, de Curitiba, professor de percussão do Musicart foi quem fez a adaptação das partituras. “Para a Ecofarra a partitura tem um andamento e não uma linha melódica.
No Musicart, todos aprendem a ler partituras, pois esta leitura agrega outras vantagens para os alunos de música. Com a leitura, aumenta a concentração e isso reflete diretamente no rendimento escolar, ajudam também em outras área”, explica.
O bumbo foi o primeiro instrumento a ser substituído. O mais difícil foi encontrar substituto para os sons da caixa e do repique. Para cada um destes instrumentos foi preciso pesquisar um objeto para produzir o som principal e outro para substituir o som do rufo da esteira (na pele de resposta da caixa, a esteira vibra e produz um som característico). As primeiras tentativas foram com latas de metal milho, areia, arroz e até pedrinhas. Não funcionou.
“Descobrimos que cortando a garrafa PET abaixo do gargalo, cortando em tiras o gargalho e friccionando uma na outra, obtivemos um som parecido. Mas ainda não o que queríamos. Além disso, era preciso muitas garrafas (e músicos) para produzir o som de uma única Caixa ou Repique. Então, a necessidade nos fez criar isso (mostra o instrumento) uma base de madeira em formato de cruz, com quatro gargalos de garrafas PET fixados em cada uma.
Ao mesmo tempo em que aprende as primeiras notas musicais, a leitura de partituras e a tocar em sintonia com o grupo, na ECOFARRA, a música leva cada integrante a construir e a fazer a manutenção dos próprios instrumentos. O custo, a facilidade de manuseio, de transporte e de armazenamento são algumas das outras vantagens destes instrumentos.
Cada músico toca com oito garrafas pequenas ou quatro grandes para reproduzir o som da esteira ou rufo. Com dois músicos e um balde plástico branco de 20 litros, conseguimos reproduzir o som da Caixa e com dois músicos e uma lata, o do Repique. Quando o som começa a falhar, desenroscamos o gargalo e colocamos outra garrafa no lugar”, explicou Elvis, entusiasmado com o resultado do trabalho de sua equipe.
“Esse instrumentos é muito bom, substitui o chocalho. Com quatro garrafas para cada um, deu volume e produziu o som cheio. Imagine uma torcida de mil pessoas num ginásio de esporte, cada um com um desses na mão, faz mais barulho do que a vuvuzela dos africanos”, brinca.
“Os adesivos são retalhos de fitas e de material publicitário que ganhamos de empresas de publicidade e os próprios alunos é quem colaram nos instrumentos. Levamos todos num campo de futebol, colocamos o material e deixamos livre para cada um enfeitar seu instrumento.
Num primeiro momento, eles encheram as bombonas e então fomos tocar. Eles mesmos perceberam que os adesivos abafaram o som e foram tirando até deixar no tom certo e com o visual que quizessem”, contou o professor.
A abertura na parte superior resulta num som mais grave do bumbo.
Multiplicar a experiência
Elvis - “O resultado musical é praticamente o mesmo e nossos alunos muitas vezes preferem tocar na Ecofarra, porque ela atrai mais a atenção do público”.
O coordenador e seus colegas, os professores Rafael Rodmann, Cristhian Vieira e Jaques Ricardo Schwendner estão dispostos a multiplicar o número de Ecofarras e se colocam à disposição para compartilhar a experiência de sucesso, com os professores de música, educação física ou qualquer outro profissional interessado em montar “ecofarra” em suas comunidades.
“No final do ano passado, recebemos convites para fazer apresentações e não conseguimos aceitar a todos. Este ano queremos privilegiar a troca de experiências com outros municípios. Devido ao custo e a facilidade em constituir e manter a Ecofarra, o que mais queremos não é fazer apresentações, mas repassar o conhecimento e ajudar na formação de outras fanfarras.
No final do ano de 2010, alguns professores e profissionais da assistência social de outras cidades estiveram aqui para conhecer o projeto. Este ano estamos à disposição para repassar os conhecimentos, as partituras e tudo o mais que for necessário, para multiplicar o número de ecofarras e talvez realizar um encontro, um festival de ecofarras aqui em Garuva”, fala entusiasmado Elvis.
Outras vantagens
Além do custo de aquisição e manutenção ser praticamente zero, os instrumentos da Ecofarra podem ser armazenados em qualquer espaço desde que abrigado da chuva para não acumular água e nem sujeira.
Outras vantagens aparecem nos dias de apresentação. Por serem rústicos um único caminhão pode levar todos os instrumentos embilhados e, enquanto aguardam, os músicos podem sentar sobre o instrumento sem provocar dano algum”.
A equipe do Musicart iniciou o ano de 2011 pesquisando materiais para substituir instrumentos de sopro e aceita sugestões para substituir o clarinete, a flauta e outros instrumentos para incluí-los na Ecofarra.
Os instrumentos substitutos
Tradicional: Bumbo
Ecológico: Bombona grande

Tradicional: Surdos (grande e pequeno)
Ecológico: Bombonas menores
Tradicional: Caixa
Ecológico 1: Um balde plástico branco *1 (embalagem industrial) e garrafas PET, substitui o som do rufo da esteira da Caixa *1.
Ecológico 2: Embalagem tipo barrica de papelão e garrafas PET cortadas
Tradicional: Prato
Ecológico: Lata de metal de tinta de 18 litros (batidas no lado da lata)
Tradicional: Repique
Ecológico: Lata de metal, de tinta de 18 litros (batidas no canto da lata) e garrafas PET (o gargalo das garrafas susbtitui o som*2)
Obs.: *1 – O balde branco de 20 litros é o mais resistente e emite um som mais puro. Para obter o som da caixa é preciso ainda produzir um outro instrumento com garrafas PET de dois litros. Ver fotos nesta página.
* 2 - É preciso juntar o som de quatro garrafas pequenas para produzir o som do repique. Diversas experiências com latas de metal com areia, cereais e até pedra foram testadas, mas não produziram o mesmo som. O instrumento pode substituir o chocalho.