Texto de Ronaldo Gomlevsky* (Recebido em 19/04/2016)
Todo mundo viu a farra que foi um dos dias mais tristes da história política de nosso país.
A TV mostrou o desenrolar completo das seções na Câmara dos Deputados que levaram à admissibilidade do processo de impedimento da Presidente da República e que ocorreram em meados de abril, encerrando-se no domingo, dia 17 de abril, com o resultado que coloca a “presidenta Dilma” definitivamente diante da real possibilidade de ser apeada do poder.
Nenhum brasileiro que tem um mínimo de consciência pode estar satisfeito com a situação do Brasil, pagando mico planetário e vivendo um momento terrível de sua vida política e econômica.
O desenrolar dos discursos na Câmara demonstrou de forma absolutamente clara, o tipo de mentalidade majoritária que existe no país e que se faz representar pela classe política brasileira.
Mandar para casa um Presidente da República, ainda que mereça, não pode ser um ato tratado como uma partida de futebol e o voto dado nesta ou naquela direção também não é para ser comemorado como gol de final de Copa do Mundo.
A falta de consciência relativa à gravidade do momento, demonstrada pela esmagadora maioria dos parlamentares envolvidos no domingo, manchou uma data solene, em que ao invés das citações à mamãe, ao papai, ao filhinho recém-nascido, ao cachorrinho da família, à torturadores e outros personagens mais e menos votados, o que a nação esperava de seus representantes políticos, era um grupo de justificativas oriundas do tema em discussão, que acalmasse a população e deixasse bem claros os motivos que levaram este ou aquele deputado, a votar assim ou assado.
O que assistimos foi uma festa em um enterro. Como se a desgraça do Brasil estivesse sendo servida à nação, em bandejas de prata, como num banquete mórbido.
Não gosto da forma como a Presidente se comporta. Não sou eleitor de Lula. Se deputado federal fosse, teria votado pela admissibilidade do impedimento da Presidente, mas esta posição não me cega e não me permite júbilo em momento de luto.
Infelizmente, aqueles que votaram, representam seus eleitores que são iguais a eles em falta de capacidade para entenderem que tipo de momento estamos vivendo. Este é um tempo de tristeza e de vergonha. Jamais uma hora de celebrações.
Nós brasileiros que estamos sofrendo com as condições do nosso país, de nossa economia e de nossa qualidade de vida, ainda não chegamos ao fundo do poço.
Pelo comportamento da esmagadora maioria dos atores envolvidos no palco do teatro de domingo, nada me faz pensar que o futuro que temos a curto prazo pela frente no Brasil, seja alentador.
Estamos atrasados um século em relação a outras sociedades e, nesta corrida maluca em que educação, conhecimento e tecnologia são essenciais para uma vida com qualidade, o que parece é que continuaremos a comemorar um mísero e isolado golzinho enquanto tomamos uma goleada de sete a um.
O quadro do último fim de semana deixa esta sensação!
Que merda!
*Ronaldo Gomlevsky é jornalista, advogado e empresário. Texto publicado também em https://www.menorahnet.com.br